As mulheres são figuras pouco citadas na tradição yóguica, elas sumiram do yoga por muitos séculos para reaparecer apenas no final do sec. XIX e início do sec. XX, junto com o movimento do revivalismo hindu no último período da época colonial da Índia.
E as gestantes nessa história? Historicamente falando, elas são inexistentes na literatura do Yoga, as referências mais antigas foram curtas indicações de adaptações à prática em alguns livros de yoga da primeira metade do século XX. Em meados dos anos 60 ampliaram-se as referências às práticas para mulheres, inclusive gestantes, mas a primeira pessoa a formalizar o Yoga Pré-Natal foi Janet Balaskas.
Janet Balaskas foi uma das idealizadoras e ativista de alguns dos maiores movimentos que contribuíram para mudar a história do parto e da obstetrícia na Europa. Nos anos 80, ela liderou um movimento organizado de mulheres, que denunciou e aboliu práticas obsoletas e agressivas na assistência obstétrica na Inglaterra.
Estes feitos foram conseguidos uma vez que um grupo de mulheres, insatisfeitas com o o sistema obstétrico inglês, organizou uma passeata nas ruas de Londres que mobilizou mais de 6000 pessoas para protestar contra as episiotomias de rotina e a mobilização das parturientes no leito. Alguns meses depois, novamente, milhares de pessoas participaram de duas Conferências Internacionais pelo Parto Ativo, provocando mudanças significativas na assistência ao parto na Inglaterra.
Um dos importantes resultados deste movimento foi a estruturação de um manifesto que celebra e esclarece o Parto Ativo. Este manifesto foi escrito por Janet Balaskas e engloba todos os pontos que caracterizam um Parto Ativo.
Mas … o que é exatamente o Parto Ativo?
Após o nascimento da primeira filha, Janet decide pesquisar sobre a história do parto, para descobrir mais sobre como as mulheres davam à luz ao longo dos tempos, e também em outras culturas onde o parto não é medicalizado. Em suas descobertas um aspecto lhe chamou a atenção; dentre todas as imagens de parto pesquisadas nos museus, não havia nenhuma de mulheres parindo deitadas. Pelo contrário, mulheres de todas as partes do mundo eram retratadas adotando posições verticais durante o trabalho de parto, e o mesmo parecia um dado universal e transcultural. Deveria haver nisso algo que tornasse o parto mais seguro, mais eficiente e mais fácil, ela pensou. e analisando o formato da pelve, facilmente pôde perceber que ela foi perfeitamente desenhada para se abrir para o parto em posições verticais. Isto permite que a poderosa força da gravidade ajude o bebê a descer e fazer rotações, permite que a mãe ajude seu bebê, e que o bebê estimule o trabalho de parto.
Ficou muito claro então para Janet, que ao longo de milhares de anos, a anatomia e a fisiologia do parto não tinham sofrido alterações em sua essência, mas por outro lado, a atitude cultural sim. Nesta época havia um pequeno grupo de mulheres junto com ela, todas determinadas a dar à luz ativamente. Elas acreditavam que o bebê sabe quando nascer, então esperaram que o trabalho de parto se iniciasse espontaneamente, e durante o trabalho de parto decidiram sair da cama e adotar as posições que consideravam mais práticas e confortáveis. Esta liberdade do corpo significava muito mais que uma simples questão de posição, significava que a mulher estava resgatando o controle sobre seu corpo e reivindicando o poder do parto. A isto ela chamou de Parto Ativo, ela nem imaginava que estas duas palavras se tornariam um termo genérico conhecido no mundo inteiro e que teria um efeito tão transformador nas práticas adotadas nos processos de parto.
O “Manifesto pelo Parto Ativo ” foi escrito por Janet para explicar os benefícios comparativos de um parto ativo e para listar as referências aos estudos que estavam disponíveis naquela época.
Segue aqui um resumo dos principais benefícios obtidos com esta prática.
- Mais oxigênio para o útero– Isto ocorre porque há menos pressão sobre os grandes vasos sanguíneos, a aorta e a veia cava, quando a mãe está em posição vertical. Há melhor fluxo de sangue para o útero, isto significa mais oxigênio, contrações uterinas mais eficientes, menos dor e menos risco para o bebê.
- Ângulo de descida mais fácil
- Mais espaço na pelve – Quando a mulher não está deitada ou semi-reclinada, o sacro pode se mover e se ajustar ao formato da cabeça do bebê, que vem descendo. Assim, há uma vantagem do aumento de mais de um terço do diâmetro antero posterior (ou seja, de frente para trás) da saída da pelve, criando muito mais espaço para a cabeça do bebê.
- Trabalho de parto mais curto, mais fácil e menos dolorido
Então finalmente, o resultado é, com frequência, um parto mais seguro e mais satisfatório.
Janet Basakas, do Active Birth Center (Centro de Parto Ativo), idealizadora do movimento e autora de vários livros sobre o assunto diz:
” Atualmente, a maioria das mulheres têm boas chances de viver um Parto Ativo, caso queiram. As mulheres agora têm muito mais consciência da necessidade de se preparar para o parto. O Parto Ativo é também uma atitude mental, não são necessários muitos equipamentos especiais, é preciso apenas confiança para fazer o que for certo para o momento, respirar, e fazer quanto barulho quiser. O corpo da mulher é sábio, basta que ela o escute e saberá tudo. A situação está melhorando bastante, e eu acredito que em 10 anos já poderá ser estabelecido que as posições verticais são absolutamente normais “
Texto de Mara Bianchi – Yoga para Gestantes
Fontes:
www. partoativobrasil.com.br
Balaskas, Janet. Parto ativo guia prático para o parto natural, 3ª edição / 2ª reimpressão revisada, aumentada e atualizada, São Paulo/2017 – Ed. Ground/Ed. Aquariana
Apostila: Yoga para Gestantes, Mães e Bebês, Anne Sobotta, 2018