O Tantra é uma filosofia do comportamento que surgiu há milênios e sobreviveu durante muitos séculos chegando aos dias de hoje.
Quanto ao termo TANTRA, TAN (estirar, estender) somado ao sufixo TRA (que indica instrumentalidade), TAN-TRA, literalmente quer dizer instrumento de expansão do campo de consciência comum, neste sentido, dentre os vários significados do termo, os que nos interessam mais são: sucessão, desenvolvimento e processo contínuo.
Para o Tantra, sendo tudo interdependente, não é difícil entender que na Índia antiga tiveram influências exteriores contribuindo para a filosofia tântrica, bem como esta também influenciando sistemas filosóficos, religiosos e disciplinas yogues.
Tantra no que se refere ao estado de entrelaçamento e à interdependência de todas as coisas, não é somente um objeto de estudo para os pesquisadores, não é coisa do passado! Tem tudo haver com a vida do Homem moderno, a este, parece que a fonte dos problemas é externa, depositam-se culpas, mas não se assume a própria disposição mental de cada um. As situações externas vão depender da condição interna em que o indivíduo se encontra.
Agora se pode perceber melhor a importância do Tantra como filosofia e comportamento para expansão da consciência. Ser consciente leva o Homem a conquistar uma vida mais equilibrada, obtendo saúde física, mental, emocional e espiritual.
O Tantra é uma disciplina que leva o Homem a despertar a consciência através de suas experiências, sendo elas internas ou externas ao sujeito. Para o Tantra nada se obtém sem a prática, não basta estar consciente, mas sim ser consciente, revelando-se assim seu caráter experimental e confirmando o sentido de processo contínuo e desenvolvimento, que reflete bem o que é esta prática.
Como já foi dito, esta “prática é atemporal, destinada ao Homem desta idade sombria, em que o espírito é profundamente envolvido pela carne e o Homem já não dispõe da espontaneidade e do vigor espiritual de que gozava no início do ciclo, é incapaz de chegar diretamente a Verdade” (Mircea Eliade). Eis então o corpo revelado como o próprio cosmos e templo do Homem.
O corpo é importante no processo de desenvolvimento integral do Homem, e sendo assim, é importante mantê-lo – não nega-lo. Desta forma o corpo Humano recebeu um valor jamais alcançado na História espiritual da Índia, revelando como característica Tântrica sua atitude anti-ascética e em geral anti-especulativa: a saúde é um DEVER do Homem não um LUXO . Adquirir esta consciência leva o indivíduo a uma harmonia e equilíbrio entre o corpo-mente-espírito, a partir deste caráter de expansão, o Tantra não vê fronteira entre corpo e espírito; os obstáculos podem ser dissolvidos pela mente!
Sendo um processo contínuo é importante persistir no caminho. Do ponto de vista do discurso de alguns leigos, pensadores e de falsos mestres, pode parecer que o caminho tântrico é fácil, pela liberdade que a prática permite, no entanto esta facilidade é aparente, esta confusão justificou muitos excessos (por exemplo, orgias tântrica. Isto não é Tantra).
As interpretações aberrantes fazem parte da História, interpretações erradas levam a ações no mesmo sentido. Na verdade o caminho tântrico é longo e difícil, exigindo estudo e disciplina. Disciplinas descrevem o conhecimento de experiências a partir de mantras, mudras, símbolos e meditação, com objetivo de atingir estados de consciência elevados. O objetivo do yogin tântrico é atingir esta consciência primordial, esforçando-se para redescobrir o que precedeu a linguagem e a consciência do tempo.
Os ensinamentos e práticas que visam alcançar tais estados de consciência, somente são revelados por um mestre, não pertencendo à educação padrão que conhecemos no Ocidente, não se pode aprender em livros, deve-se “RECEBE-LOS”.
Buscando sempre o desenvolvimento, não somente a higiene e consciência corporal do indivíduo, mas também suas relações com a vida que o cerca. “Para o Tantra, nada se obtém sem a prática“.
O Tantra conduz o Homem a reconhecer a divindade nele mesmo, não se opondo desta forma a outras filosofias e religiões. O Tantra não possui dogmas e no fundo é um pensamento muito natural, contudo volto a afirmar que não é fácil como muitos pensam; é importante entender que desde o início o tantra teve seus ensinamentos passados de Mestre para discípulo – aspecto do Tantra que já fora revelado junto aos seus princípios básicos no desenvolvimento de uma civilização que existiu no Indo, que prosperou no norte da Índia, a milhares de anos atrás. Dos ensinamentos desta época, pouco se mantém da forma tradicional, perdeu-se as origens, a expansão deste conhecimento levou a perda da qualidade e seriedade do mesmo. Poucos são os Mestres que nos dias de hoje ainda transmitem o ensinamento da forma tradicional.
Quem pratica o Tantra procura o equilíbrio corporal e mental, sendo todos os ensinamentos orientados por um Mestre, e realizados com disciplina e responsabilidade, combinando estas práticas a sua ordem filosófica e comportamental.
Segundo o Tantra, um método correto não pode excluir o corpo e, acreditando num processo contínuo, é importante não compreender somente a consciência da vida, mas também a da morte, como continuidade da mesma. A reflexão sobre a morte, leva a uma tomada de consciência de caráter essencial, para que em vida nos livremos de angústias e medos, extraindo ensinamentos práticos para a vida, melhorando a qualidade desta e nos preparando para uma morte natural.
A importância da morte no processo de vida, não quer dizer que se ignora o sofrimento e os males que levam a ela, porém, é interessante fazer um paralelo; segundo os yogues, a senilidade e a doença são evitáveis, a simplicidade desta afirmação é apoiada numa experiência profunda e complexa tendo como objetivo a transformação.
Sendo um processo contínuo, o Tantra diz que uma transformação é possível, mas destruição nunca. Inicialmente o Tantra é uma maneira de ser e sentir, antes de se concretizar em determinadas técnicas ou rituais, sua manifestação vai além dos ritos e símbolos, dando acesso ao que há de oculto no Homem, despertando e expandindo a consciência.
Prof. Shri Joshi Satyanarayana
CONFERÊNCIA
http://www.vidyayoga.org.br/home2002/conferencia_2002_tantra.htm