– Que pensa da psicologia moderna? perguntei um dia a Gurdjieff, com a intensão de levantar a questão da psicanálise, da qual desconfiara desde o primeiro dia.
Mas G. não me permitiu ir tão longe.
– Antes de falarmos de psicologia, disse, devemos compreender claramente de que se trata essa ciência e de que não trata. O objeto próprio da psicologia são os homens, os seres humanos. De que psicologia – sublinhou a palavra – se trata quando cuidamos de máquinas? É da mecânica e não da psicologia que necessitamos para o estudo das máquinas. Por isso é que começamos pelo estudo da mecânica. Ainda falta percorrer um longo caminho para chegar à psicologia.
Perguntei:
– Pode um homem deixar de ser máquina?
– Ah! aí está a questão, disse G. . Se tivesse feito mais frequentemente semelhantes perguntas, talvez nossas conversas tivessem podido levar-nos a alguma parte. Sim, é possível deixar de ser máquina, mas, para isto, é necessário, antes de tudo, conhecer a máquina. Uma máquina, uma máquina real, não se conhece a si mesma e não pode conhecer-se. Quando uma máquina se conhece, desde esse instante deixou de ser máquina; pelo menos não é mais a mesma máquina que antes. Já começa a ser responsável por suas ações.
– Isso significa, segundo o senhor, que um homem não é responsável por suas ações?
– Um homem – frisou esta palavra – é responsável. Uma máquina não é responsável.
P. D. Ouspensky – Fragmentos de um conhecimento desconhecido – em busca do milagroso. Ed. Pensamento